Luto pela cultura do nosso Brasil

03/09/2018

 O incêndio no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista devastou não apenas 200 anos de história do nosso país, como também as minhas mais belas memórias.

Foram 20 milhões de itens históricos perdidos entre as chamas naquele que um dia foi a moradia da família real no Brasil. Itens únicos adquiridos pelas mãos sábias de Dom Pedro, o homem que trouxe naquela época a história do mundo para nosso país tão carente de cultura. As paredes do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista significavam muito mais para mim do que um simples museu. Era nossa história que estava impregnada ali, o trabalho exaustivo dos nossos cientistas, anos e anos de dedicação em estudos que complementavam a árvore genealógica de cada brasileiro.

Pensar que não poderei mais caminhar por aquele piso de madeira barulhento e brilhoso, sentir-me uma formiguinha em meio a imensidão do palácio e reencontrar o equilíbrio da minha vida ao admirar a beleza dos jardins debruçada sobre as grades da varanda me deixam devastada. Dói pela cultura que foi perdia, pelos itens históricos que eu tanto amava apreciar, por reconhecer que aquele lugar construiu muito mais da minha personalidade do que eu sou capaz de assumir. Minha paixão pela ciência começou dentro do acervo histórico desse museu ainda muito jovem durante as excursões escolares. Eu pequena, olhava para os fósseis tão gigantes montados a minha frente e me questionava sobre como os dinossauros foram parar aqui, "quem somos" e "qual nosso papel nesse mundo". Fiquei tão apaixonada pela grandiosidade daquelas peças que comecei a me interessar mais pelas descobertas científicas. Ali estava o primeiro dinossauro montado no Brasil!

Lembro-me de como foi interessante meu pavor do acervo egípcio se tornar a cada visita uma paixão incontrolável. O medo comum à crianças, com os anos, se tornou admiração e ao invés de eu passar correndo pelas portas com medo de que uma daquelas múmias se levantasse e viesse atrás de mim, comecei a correr para lá ansiosa para rever, analisar e babar por cada pequeno detalhe bem trabalhado, conservado e cuidado por aqueles seres tão inteligentes. Eu sempre voltava daquela sala com uma pergunta nova, um novo questionamento, mais motivos para virar dias estudando sobre e pesquisando na biblioteca. Recordo bem do quanto fiquei triste quando fecharam um dos andares por problemas com cupins e de como eu sentia falta daquela parte do acervo que não fui mais capaz de visitar.

Ainda assim, apenas estar dentro de uma arquitetura tão rica e bem trabalhada já valia a pena. O museu nacional virou meu xodózinho. Era para lá que corria cada vez que precisava sentir minha alma resplandecer e encontrar um pouco de paz. Era como se apenas estar ali em meio aquela imensidão artística e cultural fizesse encontrar minhas raízes e incentivasse a renovar as forças para recomeçar. Todo mundo que me conhece bem sabe sobre a minha paixão por aquele lugar. Sou capaz de reprisar em minha mente cada pequeno detalhe da arquitetura do palácio, pois, sempre achei inteligente e complexa a forma como ele foi construído. É uma obra de arte!

São tantos detalhes que memoráveis que foram perdidos, que meu coração dói. O acervo indígena e todas as vezes que passei brincando por aquelas salas cheias de artigos antigos, da cara de apavorada da minha mãe ao ver a representação dos índios pelados, os quadros belíssimos da família imperial que me levavam a imaginar como seria na época aquelas pessoas caminhando tranquilamente com seus vestidos chiques e perucas esquisitas, as representações das espécies raras e que já foram extintas, o fóssil de 11.500 anos de Luzia, o meteorito de Bengedo.

Deixo aqui as lágrimas de uma garota que vai sentir muita falta de toda essa cultura que formou cada pedacinho da minha alma, e a tristeza de saber que nossas crianças nunca serão capazes de vivenciar os momentos que eu vivenciei ali. Não existem palavras capazes de decifrar a minha dor pela perda científica irreparável que aconteceu na noite do dia 2 de setembro de 2018. Meu coração está destruído, espero que essa tragédia sirva de aprendizado para que no futuro, locais tão relevantes sejam mais valorizados por nossos governantes.

#RIPMuseuNacionalBrasileiro

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